quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DELÍRIOS MUSICAIS DA "PEQUENA AUGUSTA"

Quem lê o titulo desta reportagem pode pensar que irei escrever sobre alguma banda de rock, mas irei falar nada mais nada menos do que a tão ‘popular’ “Calçada da Fama” (mas gostei da idéia de nome pra banda, me pareceu sonoramente agradável), ou seja, a Avenida Pinheiro Machado, mais precisamente entre as ruas Presidente Dutra e Gonçalves Dias.

Mas você deve estar pensando “que diabos tem haver essa pequena Augusta com isso?”, calma, não criemos pânico! Tudo isso se iniciou em um fim de tarde, no famoso happy hour com amigos.

Sentados em um dos bares que residem ali, olhando o movimento passar e apreciando uma cervejinha gelada em meio ao calor insano de nossa região, eu e uma amiga, conversávamos sobre o incrível movimento dos bares em pleno domingo. Foi então começamos a relembrar as nossas vidas longe daqui, ela em São Paulo e eu em Curitiba, e lamentamos durante horas por não termos mais tantas opções de bares ou baladas para freqüentar. E foi em meio a todo este lamento que surgiu o nome da famosa Rua Augusta, que se localiza em São Paulo, conhecida por sua incrível diversidade de bares, música, pessoas, e porque não relatar também, por suas ‘putas’. Foi então que ela disse “essa é nossa pequena Augusta”.

Sim, para aqueles que aqui vivem, quando o assunto é ‘balada’, a Avenida Pinheiro Machado é a opção que encontram, é onde a maioria dos bares da cidade se localiza e as pessoas ‘descoladas’ freqüentam. De segunda a segunda você poderá encontrar ao menos um destes bares abertos, e a cada dia um estilo musical diferente. Foi ali, em uma noite qualquer que decidi me aventurar e observar o que realmente acontece naquele lugar.

Primeiramente, procurei um local estratégico, onde poderia ver o que se passava nas duas principais quadras daquela avenida. Sentei em um dos bares onde poderia curtir um som e não pagar couver (que fique claro que não tenho nada contra em pagar couver, afinal é o meio que o artista tem para ganhar uns trocados na noite, mas os valores estão cada vez mais altos, e sei que todo aquele dinheiro arrecadado não vai pro musico).

Cerveja gelada, preço razoável, e cigarro caríssimo, foi quando decidi comprar cigarros que surgiu o primeiro questionamento da noite, se em muitas cidades a Lei que penaliza quem fuma ou permite fumantes em locais fechados já está em vigor, isso faria com que os fumantes consumissem menos cigarros na noite, o que possivelmente faria as vendas do mesmo diminuir, pois sei que fumantes consomem mais cigarros quando estão bebendo, então porque as indústrias do tabaco teimam em subir absurdamente seus preços? Ainda não encontrei uma resposta, mas o questionamento martela em minha mente sempre que vou comprar o maldito cigarro.

Mas voltando ao bar. É incrível como você não repara nas coisas que estão ao seu redor quando é mais um na multidão. Se parar para prestar a atenção nos fatos e não nos gatos, você percebe que aquele lugar deveria se chamar “Passarela dos Desesperados por Atenção”, e a primeira coisa que identifiquei foi o ridículo desfile automobilístico que trava todo o trânsito da Presidente Dutra. Se antes os jovens colocavam películas negras no vidro dos carros, hoje eles querem toda a transparência possível, para que as moças disponíveis os vejam desfilar no carrão do papai. Pois alguns que ali passam, nem idade para dirigir deve ter.

Com o trânsito parado e caótico, as buzinas e o aglomerado de som começam. É funk, sertanejo, hip hop, brega, enfim, uma variedade musical infinita e inaudível. O que para mim parecia ser uma possível noite de diversão começou a se transformar em um pequeno inferno sonoro. E nessa hora eu dei graças a Deus por não pagar couver, pois quem precisa dele quando na rua os famosos ‘playboys’ param seus carros com sons de ultima geração pra tocar musicas em volume ensurdecedor e proibido pela polícia ambiental (que por acaso, passa ali de vez em quando, mas ao invés de enquadrar tais pessoas de gosto musicais duvidosos, prefere enquadrar os pobres músicos que estão tentando ganhar o pão).

Minha cabeça já doía e eu mal podia ouvir meus pensamentos ou o que meus amigos falavam, tínhamos de gritar uns com os outros para poder simplesmente conversar. Voltei à atenção novamente para a rua, da qual o transito não fluía e as pessoas desfilavam de um lado para o outro, principalmente as meninas, encima de seus sapatos de marca, trajando roupas cada vez menores, por um segundo passou pela minha cabeça a imagem de um açougue, onde pedaços de carne eram expostos esperando serem escolhidos e levados para casa. Foi quando uma amiga me tirou do transe para comentar o quão ridículo as pessoas eram e da falta de bom senso, para ver uma moça usando uma calça tão justa que para entrar nela eu teria de me besuntar em óleo, sem contar a blusa colada que marcava as gordurinhas a mais que lhe pulavam da tal 'calça'.

Foi então que meu senso crítico de moda entrou em ação, depois de algumas cervejas eu me acho a Gloria Kalil e fico observando o visual de todos que passam, como uma revista de certo e errado. Eu não sou ninguém para julgar alguém, mas acho um ótimo passatempo, tendo em vista que sei que as pessoas falam de mim e me tacham de ‘bonequinha esquisitinha’ por ai, me sinto a pessoa mais normal do mundo quando passo a analisar outras, no maximo estou na cidade errada. Quanto ao comentário acima sobre a gordurinha da moça, não é questão de peso, é questão de servir na roupa, e mesmo assim, é incrível saber que no final da noite possivelmente ela sairá acompanhada e eu não.

Isso me faz perceber o quão parecida é a Pequena Augusta com a Rua Augusta, pois temos a diversidade de bares, cada um com sua temática e preços diferentes; a variedade sonora (inclusive nos bares, pois em cada um deles você pode ouvir um som diferente, o que te faz, no final das contas não ouvir nada) e a mistura social, pois ali você encontra desde playboys aos famosos ‘manos’. Só não posso dizer que temos as famosas ‘putas’, pois as verdadeiras profissionais do ramo se encontram em outro local da cidade, mas há as que agem como tal e não cobram nada por seus serviços, basta ter carro que você leva. Não é mais divertido do que o bairro da Luz Vermelha?

Depois de uma hora sentada ali eu já estava de saco cheio, já colecionávamos garrafas de cerveja, e mesmo com o pouco de dinheiro que restava em nossas carteiras, poderíamos encarar o pub mais badalado de toda Porto Velho, que por acaso não se localiza na “Calçada da Fama”.

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